quarta-feira, 27 de maio de 2015

Bem me lembro... (Carta aberta aos meus professores - de alguém que nasceu na escola)

Praticamente nasci frequentando escolas, colégios e faculdades.
Todos da minha família se dedicaram à educação:
Das minhas primeiras lembranças estão, os dias inteiros passados nas escolas, onde minha avó era merendeira, meu avô era inspetor, minha mãe professora...
Lembro dos puxões de orelha da minha mãe "Não pode correr no corredor!"}
(Minha duvida mais cruel, "Por que chama corredor, se não pode correr nele?" Acho que daí veio meu gosto pela filosofia).
Fiz o pré umas 2 vezes, até que não quis mais e me auto-matriculei na quarta série da professora Efigenia, com 5 anos.
Lembro da professora Damaris, que tinha como desafio de honra ensinar os alunos mais difíceis na segunda série.
Bem me lembro, da minha professora Maria, do pré (quando fiz na idade certa), que nos ensinou a música do Coelho Bossa Nova.
Talvez ela nem se lembre mais de mim, nem do Coelho, nem de nos levar pra escovar os dentes depois do lanche, nem de ter me ensinado a desenhar uma nuvem, um sol ou gotas de chuva no cabeçalho do caderno para expressar como estava o clima naquele dia.
Ela me ensinou a olhar para o Céu.
Me lembro da "Tia" Ivone da creche, que nos contava historias que eu não entendia muito bem.
Posso ser injusto com as outras tias, inclusive com a "tia" Cristina, que era quem nos disciplinava, bem me lembro, mas, pelo que me lembro, só a "Tia" Ivone nos contava historias.
Seu sorriso era doce, sua presença, era leve.
Ela tinha algo de especial.
Bem me lembro, da professora Marina, que se dedicava de maneira especial aos alunos, observando suas qualidades, potenciais... Ela mudava a atmosfera dos lugares onde estava.
Com certeza se você teve aulas com ela, ou se ao menos estivesse em algum colégio no mesmo dia que ela, sabe quem é.
Lembro da Neide, amiga de trabalho da minha mãe, que me contou a historia do Menino Samuel, "que era somente uma criança, mas ouviu Deus".
Lembro quando a minha Tia Rosi  (esta de verdade, irmã da minha mãe) me deu minha primeira bíblia para crianças, Era vermelha, ilustrada, um breve resumo da historia, uma figura e uma pergunta.
Nela aprendi quem são os personagens bíblicos.
E foi ela quem me levou para a igreja na infância.
Bem me lembro das aulinhas de domingo na igreja.
Dos filhos da Irmã Carmem contando historias da bíblia.
Da Daniela nos ensinando a cantar "Como é bom louvar a Deus/como é bom".
Da Samanta, ensinando que temos de ser constantes em nossos atos, Da Soninha, mãe da Kalinka, ensinando "que a boca fala do que o coração está cheio", do pai da Gabi e do Felipe, do Luciano...
Do vídeo da "Ovelha Pom-pom" onde o pastor dela cantava "Ei Pom-pom olha o perigo/Não vá longe/Fique comigo...".
Daquela tela de feltro, onde colavam personagens, arcas, colunas de construções dos filisteus, homens fortes, animais, arcas, Isaques e cordeiros...
Lembro das tardes na chácara da igreja Presbiteriana, aqui no bairro onde passei a os primeiros anos da minha vida, e hoje tenho o prazer de viver.
Tinha futebol, suco de uva, bolacha e pessoas diferentes, com um brilho especial. Algo que eu queria na minha vida.
Lembro dos teatros em que uma florzinha cantava, "Quem não ora e a bíblia não lê, DI-Mi-Nu-I-rá"
Da Sueli e da Anita vestidas de jardineiras...

Na adolescência, fase tipica, decidi esquecer, e fiz bastante força para isto.
Mas, por onde quer que eu andasse, me lembrava das pessoas que semearam na minha vida palavras de paz, alegria, amor, vitoria...
Nos lugares onde não deveria ir, lembrava de "Ei Pom-pom, olha o perigo. Não vá longe, fique comigo. É melhor me obedecer, sou seu pastor, sei o que fazer".
Por mais longe que eu fosse (e fui), lembrava das palavras que selaram meu destino.
O gosto do suco de uva de pacotinho, das rosquinhas de chocolate, do leite com Tody e das historias.

Por muito tempo amaldiçoei em minha mente "aqueles idiotas que mentiram para mim. Colocaram um monte de abobrinhas na minha cabeça. Por causa deles, hoje não consigo ser feliz".
E eu achava que era feliz.
Hoje entendo que a negação dos princípios é um comportamento típico de quem não quer obedecer/acreditar.
Mas, eu já acreditava.

Era engraçado, quando, nas "viagens mais loucas', nas fases mais estranhas (e eu tive várias) alguém me perguntava "O que você quer pretende para o futuro?" e eu respondia "Por mais que eu gire, no final serei professor e pastor". Risos e olhares perplexos.
Mas eu acreditava, por mais que fizesse tudo para sabotar este plano.

Hoje, entendo os olhares doces, que vem da fonte de todo amor e doçura, e transbordam daqueles que tem acesso a esta fonte.
A dedicação ao próximo, que vem do exemplo daquele que se fez o mais humilde dos homens.
A vontade de contar as historias e as lições de vida, que antes de chegarem aos meus ouvidos, mudaram a vida daqueles que me contaram.

Hoje, quando bem me lembro destas pessoas, historias, brincadeiras, tempo... Sei, que devo a elas (alem da minha família) grande parte do que sou.
Percebo que o que aprendi com os que citei aqui, e vários que não me lembro, me pouparam de ir mais. longe, mais fundo...
As frases, os provérbios, foram as migalhas de pão que indicaram o caminho de volta.
E por mais que os pássaros tentassem comer estas migalhas, tive a sorte de ter sempre pessoas novas, jogando migalhas novas.

Hoje, sou estudante de teologia, filosofia, me preparo para aquilo que, desde cedo sabia, que iria fazer.
E que, estas pessoas, tiveram um papel decisivo em minha vida.

Com este texto, agradeço a todos eles, e aos outros mestres que passaram pela minha vida.
Quer seja a professora que me ensinou aritmética, a historia de Sansão ou o reitor da faculdade que me ensinou sobre calvinismo ou o amigo Marco que tem dedicado todos os finais de noite de sexta, para nos ensinar as cronologias e detalhes da historia de Israel.
O Gio que me ensinou sobre como ensinar através do exemplo e da amizade, o Waltenir (e o Rodrigo) que me ensinaram como estudar exaustivamente simplesmente para ensinar a outros verdades profundas ou o Anderson que ensinou como se inflamar contra a injustiça e abusos cometidos contras as crianças e jovens, chorando, e gritando e ainda assim exalando amor e junto com toda sua família se dedica a ensinar as crianças e adolescentes da nova geração o que outras pessoas nos ensinaram antes.

Vocês impactaram a minha vida, mudaram meu destino, inclusive, o destino eterno.

Obrigado a todos que me ensinaram.
Obrigado aos que hoje se dedicam a ensinar pessoas que podem nunca mais ver.
Eu amo vocês.


Se você que está lendo isto é professor, mestre... Ou simplesmente tem a oportunidade de ensinar algo a uma criança, faça. Com amor e por amor.
Pode ser que ela não te agradeça, não se lembre onde aprendeu esta historia, este principio, mas você pode impactar uma vida, positivamente, pela eternidade.

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